sexta-feira, 31 de outubro de 2003

Um pernambucano, o poeta solano...

Mulher, de maneiras mil, de gingados extrovertidas, de olhar transparente e de temperamento genial, os substantivos são inúmeros para descrever a essência feminina.

E o poeta Pernambucano Solano Trindade que nasceu na cidade de Recife (PE) no ano de 1908 e faleceu em 1974 no RJ, com pneumonia, escreveu entre outros, o poema:

Poeticamente Polígamo

Eu sou poeticamente polígamo
Amo inumeráveis musas
e elas não são iguais...
Cada uma oferece
um amor diferente
e eu sou sensível
à mutabilidade amorosa...
Plasticamente
há grande variação
entre as amadas
e nos seus olhares
encontro inspirações diversas
e nos seus corpos
diferentes perfumes
As mulheres
São como as flores e os frutos

Por: Gutão

A brevidade de Vassourinha

Vassourinha (foto: cliquemusic)
Mário Ramos, mais conhecido como Vassourinha, nasceu em São Paulo, SP em 16 de maio de 1923.. há variações quanto a origem de seu apelido, mas já era conhecido assim quando iniciou como contínuo da Rádio Record de São Paulo, no ano de 1935, quando também deu início à carreira de cantor, no horário noturno.

Ainda nesse mesmo ano, participou do filme Fazendo Fita, dirigido por Vittorio Capellaro. Na Rádio Record, formou dupla com a cantora Isaura Garcia apresentando-se em circos em shows.

Em 1941 gravou pela Columbia e atuou na Rádio Clube do Brasil no estado do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano e no de 1942, gravou os seis únicos discos que deixou. O primeiro incluía Juraci (Antônio Almeida e Ciro Monteiro) e Seu Libório (João de Barro e Alberto Ribeiro), fez grande sucesso e o projetou nacionalmente como herdeiro do sambista Luís Barbosa. Entre os demais, destaca-se o samba Emília (Haroldo Barbosa e Wilson Batista), que ratificou seu êxito inicial, além de Amanhã Tem Baile (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e Olga (Alberto Ribeiro e Sátiro de Melo).

Vassourinha morreu no dia 03 de agosto de 1942 com apenas 19 anos de idade, ao que parece de osteomielite, deixando apenas 12 fotos e uma diminuta discografia (reeditada mais tarde em LP da Musicolor), o suficiente para ser tido como um dos maiores sambistas brasileiros.■
Sandro Siano - Fonte: E. M. B.

50 anos de camisa verde e branco

Dionísio Barbosa, um folião (?), Tobias e Talismã

Neste último dia 04 a escola de samba Camisa Verde e Branco completou 50 anos.No ano de 1914,mais precisamente no dia 04 de Setembro, nasceu o grupo carnavalesco Barra Funda dando origem a escola, Dionísio Barbosa e um grupo de foliões vestiam camisas verdes e calças brancas e juntos animavam o carnaval das ruas do bairro. Por esse motivo, o bloco ganhou o apelido, que mais tarde tornou oficial.

Eles desfilaram até 1936, depois por motivo político fizeram uma longa pausa, sendo reativado no dia 04 de Setembro de 1953, por Inocêncio Tobias que criou o cordão Camisa Verde e Branco. Desde então esta é a segunda escola de samba de São Paulo a ter faturado mais campeonato, contando com um tetracampeonato na história do carnaval, foi no período de 1974 à 1977. O último título da escola foi no ano de 1993, e no ano de 1996 apresentando problemas no carro alegórico perdeu pontos e foi pela primeira vez rebaixada, para o primeiro grupo, mas no ano seguinte fez um ótimo desfile e foi campeã do grupo I e retornando em 98 para o grupo de elite.

Um dos ícones da escola foi o compositor Ideval Anselmo, que nasceu em Catanduva no interior do Estado de são Paulo, ele é considerado dentro da escola o campeoníssimo compositor, totalizando (9) sambas, sendo, (7) sete sambas conquistados seguidamente, e além dele também tinha o grandioso Octávio da silva, mais conhecido por Talismã ou Mumu, este chegou na Barra Funda em 1967 e construiu uma linda história dentro da escola, além do hino da verde e branco Sou verde e Branco e do hino do Carnaval Paulistano A Biografia do Samba, Talismã compôs os seguintes sambas: há um nome gravado na história – 13 de maio, festa das flores, Sonho Colorido de um Pintor, entre outros.■

Por : Sandro Siano
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Fonte : site G.R.E.S.M “Camisa Verde e Branco”.

Grande dama do samba no PNS

Tia Surica.

Se o arauto porventura anunciar à: Iranete Ferreira Barcellos! Decerto, no breve momento antecessor à aparição da mesma, a platéia há de por-se apreensiva e um tanto curiosa então se perguntará: Quem será a proeminente figura, a grande dama?!

Contudo, se ao menos no universo da samba, nada pequeno, a anunciada for: "Surica, Tia Surica!" Aí os amantes do samba, portelenses ou não, render-se-ão à esta que é, incontestavelmente, uma das grandes damas, uma das grandes divas do nosso velho e bom samba, da nossa cultura brasileira e popular.

Essa divina pastora da Águia Alva e Celeste de Madureira, também considerada a memória viva da Velha Guarda e da própria Portela, esteve no domingo 10.08.03 no do Projeto Nosso Samba e quem esteve presente pode apreciar a batucada gostosa e envolvente da roda do, PNS temperada pela bela voz de Tia Surica.

Aos 4 anos de idade, levada por seus pais, desfilou pela 1ª vez na ala infantil das baianas da Portela e nunca mais deixou de sair na escola da qual sente imenso orgulho.

Além de passista, Surica foi crooner e desde 1970, instituída a Velha Guarda, passou a integrá-la. Em 1986 participou da LP Grandes Sambistas, em 1988 participou do disco em homenagem a Paulo da Portela e em 2000 do CD Tudo Azul, sempre com a Velha Guarda da Portela com a qual participou ainda de gravações junto á inúmeros artistas como: Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, e outros mais... Participou ainda dos filmes: Se Tu Fores e Paulinho da Viola: Meu Tempo é Hoje, este de lançamento recente.

Também conhecida pelo talento na arte culinária, é exímia cozinheira (No cardápio, destaque para a feijoada, o mocotó, o angu à baiana e outras iguarias), Surica gosta de dizer: “Eu faço parte do samba e sem ele eu não sou ninguém!” e vem se apresentando tanto com a Velha Guarda como em trabalho solo, representando com muita dignidade à Ele que nos põe, a nós, juntos, reunidos e engajados, a saber: O Samba!

Assim, em nome do Projeto Nosso Samba: SALVE O SAMBA! SALVE A PORTELA! SALVE A VELHA GUARDA DA PORTELA! SALVE TIA SURICA!■
Selito SD
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FONTE: Samba News / Correio Basiliense(site)

O PNS comemora o seu 5º aniversário!

O Projeto Nosso Samba completará 5 anos de existência e a comemoração será no dia 05 de outubro no Centro de eventos Pedro Bortolosso, localizado na Av. Visconde de Nova Granada 11 - KM 18, Osasco. Esta avenida (do viaduto, alça da Rod Castelo Barnco) é paralela à rua São Maurício (onde situa-se o PNS, na sede da S. E. Ponte Preta)

O evento apresentará: o Centro Educacional Gracinha com o espetáculo de Teatro de Sombras "A Luz de Cartola", baseado na vida do mestre Cartola; o grupo Samba-Lenço de Mauá, um dos últimos depositários do samba tradicional paulista; e os homenageados: Seo Hélio Bagunça, Tio Mário Luís e Seo Airton Santa Maria, três baluartes da gloriosa Camisa Verde e Branco; além da grande intérprete Adriana Moreira.

Para essa festa, "imperdível", os convites, individuais, lhe custarão o preço simbólico de R$ 3,00 (três reias), certo? Contamos com sua participação.■

Selito SD

Festa do 5º Aniversário do Projeto Nosso Samba 2

Samba Lenço de Mauá

Tradição: O Samba Rural Paulista

E todo mundo caíu no "samba do pé quebrado"

A continuidadae

A bendeira sempre hasteada

Robério, Selito SD e Pedrinho

Fábio Goulart Ninão, Selito SD e Pedrinho

Festa do 5º Aniversário do Projeto Nosso Samba

Dona Clívia


O Estandarte


Dona Clívia, Lu Santos e Carla Goulart


A Roda de Samba!


Airton Santa Maria e Mário Luís (homenageados)


Airton Santa Maria, Hélio Bagunça e Mário Luís (homenageados)


Em pé: Hélio , Nelson, Airton, Mário e Dadinho
Nos arames: Ricardo, Paulinho e Marcelo


Airton Santa Maria


Mário Luís, Nelsom Primo e Dadinho

David 7 Cordas


Jucélia Pereira (A fotógrafa)


Ah, e o bolo!

domingo, 31 de agosto de 2003

Quem matou Inês: A sina de Inês de Castro

Para acabar de vez com a curiosidade, com a inquietação daqueles que desejam saber a origem do dito popular “Inês é morta”, segue pois um breve texto que visa elucidar o mistério e quiçá despertar o interesse da nossa comunidade em conhecer um pouco mais com o mundo literário:

Filho do Rei Afonso IV e casado com D. Constança, Dom Pedro, Príncipe de Portugal, se apaixonou por Inês de Castro, dama de companhia de sua esposa e filha bastarda de um nobre português. Com a morte de D. Constança, D. Pedro, futuro Rei de Portugal, quis selar seu amor com Inês que fora morar em Coimbra às margens do Rio Mondego. O príncipe pretendia fazer dela sua rainha.

Temendo pela sucessão do trono que seria de seu neto, filho de Constança e insuflado pelos nobres que temiam uma influência castelana, O Rei Afonso IV tenta induzir e conduzir o filho a um casamento que obedecesse às conveniências políticas de Portugal e não ao coração. Para lograr êxito, o Rei manda buscar Inês para que seja executá-la.

Inês é levada com seus filhos perante o Rei por seus terríveis verdugos. Depois de ouvir a sentença, ela ergueu os olhos aos céus e disse:

"Até mesmo as feras, cruéis de nascença, e as aves de rapina já demonstraram piedade com as crianças pequenas. O senhor, que tem o rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem soube conquistá-lo. E se o senhor sabe espalhar a morte com fogo e ferro, vencendo a resistência dos mouros, deve saber também dar a vida, com clemência, a quem nenhum crime cometeu para perdê-la. Mas se devo ser punida, mesmo inocente, mande-me para o exílio perpétuo e mísero na gelada Cítia ou na ardente Líbia onde eu viva eternamente em lágrimas. Ponha--me entre os leões e tigres, onde só exista crueldade. E verei se neles posso achar a piedade que não achei entre corações humanos. E lá, com o amor e o pensamento naquele por quem fui condenada a morrer, criarei os seus filhos, que o senhor acaba de ver, e que serão o consolo de sua triste mãe."

Tocado por essas palavras, o Rei já pensava em absolver Inês, quando os verdugos, que defendiam a execução, sacaram de suas espadas e a degolaram.

Tal fato ocorreu em 1355 e segundo a lenda que D. Pedro, inconformado, mandou vestir a noiva com roupas nupciais, sentou o cadáver no trono e fez os nobres lhe beijarem a mão. A infeliz foi rainha depois de morta, daí falar-se que "agora Inês é morta!".

Na verdade, D. Pedro manda transladar o corpo de Inês do mosteiro com pompas de rainha para o mosteiro de Alcobaça em 1361, quando já era rei. Portanto, seis anos após o assassinato.

Ao subir ao trono D. Pedro conseguiu que outro Pedro, o Cruel, rei de Castela, lhe entregasse os homicidas, que para lá fugiram, pois os dois monarcas tinham um pacto de devolver um ao outro os respectivos inimigos.

Para imortalizar seu amor por Inês, D. Pedro jurou em presença de sua corte que se havia casado clandestinamente com ela, transformando-a, dessa maneira, em rainha após a morte. Desde o século XV até os nosso dias vários poetas homenagearam Inês de Castro. Camões o faz em "Os Lusíadas".
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Fonte: www.secrel.com.br/jpoesia/camoes01.html, 1999.

Cinco anos de vida em prol do samba!

Como cantou Cassiano (os da antiga se lembram) “Mais um ano se passou...” E não é que lá se vai, já, quase um ano! Pois bem. Estamos desde então iniciando a corrida para a preparação da festa do 5º Aniversário do Projeto Nosso Samba de Osasco – um qüinqüênio de vida. Por hora, cabe-nos informar que os preparativos já começaram e que pretendemos obter o mesmo sucesso do evento anterior.

Como da outra vez, haverá homenageados e, decerto, estes serão pessoas ligadas ao universo do samba paulista. Os nomes, estaremos divulgando em momento oportuno e esteja certo(a), você participante das nossas reuniões quinzenais, de tratar-se-ão de baluartes da nossa cultura.
O convite está feito, a data é 05.10.2003 e maiores detalhes serão divulgados no decorrer do tempo que nos separa do grande dia, certo?!? Até!!!

Selito SD

Falece Almir Chediack

Mais uma triste notícia para a música. No dia 25 de Maio, o produtor musical Almir Chediak foi assassinado. Ele que nasceu em 1950, na Cidade do Rio de Janeiro. Com 13 anos de idade já tocava violão, depois de ter estudado com Dino sete cordas. No Centro Musical Almir teve alunos ilustres como: Tim Maia, Gal costa, Nara Leão entre outros.

Em 1984 ele entrou no mercado editorial, lançando o dicionário de acordes cifrados. Três anos depois, fundou a Lumiar, sua própria editora, que tornou-se sinônimo de publicação de Song books.

E assim a música fica órfã de um grande músico, professor, empresário e historiador. E fica aqui expresso o sentimento do Projeto Nosso Samba de Osasco.

segunda-feira, 30 de junho de 2003

Morre Seu Argemiro do Patrocínio*

Seu Argemiro (à esq.) c/ Seu wilson Moreira

O samba perdeu neste último 22 de Maio o do Patrocínio mais conhecido como seu Argemiro. Ele que nasceu em 28 de junho de 1922, no subúrbio do Rio de Janeiro, descendente de um casal de mineiros, natural de Barbacena, quando jovem integrou na famosa bateria da Portela.

Ao entrar para a Velha Guarda, a convite de Alvaiade, encontrou-se com outro pandeirista emérito, o saudoso Alberto Lonato, com quem formou dupla histórica, pela maneira de tocar o instrumento. Com 56 anos de idade começou a notabilizar-se como compositor. Foi parceiro de Casquinha em “A chuva cai” e “Gorjear da passarada”; com Maia fez “Atenda o apelo” e “Que lugar”; com Alberto Lonato, “A saudade me traz” e a música “Dancei” fez com ele mesmo, “entre tantos outros parceiros”. Teve músicas gravadas por Beth Carvalho, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Marçal, entre outros.

Ele que foi um galante conquistador, dono de uma fina ironia, com o bom humor incansável e elegância natural, antes de dedicar-se exclusivamente a música, exerceu a profissão de ajudante de mecânico de refrigeração e ajudante de laboratório. Trabalhou em uma loja de eletrodomésticos, de onde foi demitido por ter faltado ao trabalho para participar de uma festa na casa de Madalena Xangô de Ouro.

Esse veterano portelense pertenceu durante muitos anos à bateria da escola. Exímio pandeirista, dizia sem modéstia: “No pandeiro, não tenho sucessor dentro da velha guarda. Não há quem bata no pandeiro do meu jeito. Havia bons pandeiristas na Portela: o Neco e o Júlio. Na Velha Guarda, eu e o Alberto fazíamos uma dupla que funcionava como um surdo de marcação e outro de resposta”.

Embora reconheça o mérito e a autenticidade da Velha Guarda, seu Argemiro foi cético em relação ao futuro da Portela: "A Velha Guarda da Portela é a única velha guarda do Rio. Já a Portela, vai de mal a pior. Não tem mais empolgação, Harmonia. É preciso garimpar bons elementos. Há ouro, mas não há garimpeiro”.

No ano passado em 2002, quando comemorou o seu octogésimo aniversário, a obra e a voz aveludada de Argemiro Patrocínio, antes só registradas em ocasiões esporádicas, recebeu finalmente uma justíssima homenagem a seu grande talento, o destaque de uma obra solo.

Sandro Siano
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(*) Fonte: Livro "A velha Guarda da Portela.

Considerações sobre o 13 de maio

A partir das supracitadas Leis Abolicionistas internacionais nos é possível perceber que a nossa Lei Áurea não foi, em momento algum, um ato de benevolência de nossa “linda e bondosa” princesa Isabel. Tratou e isso sim, do “final” de um processo que envolveu uma intensa e sangrenta luta por parte dos negros, desde o momento de sua chegada a esta terra como escravos.

Foi a partir do Século XIX com o advento da Revolução Industrial (ascensão burguesa) que teve em solo inglês a sua consolidação e em conseqüência a mudança do modo de produção que as coisas começaram a mudar.

Com o surgimento da Indústria, do trabalho livre assalariado, veio uma nova ordem à qual, gradativamente, o mundo teve que se adaptar. A Inglaterra, então, a grande potência determinava o rumo das coisas. Assim, sendo o Brasil, ao final dos oitocentos, o único país a manter o regime escravocrata, passa a sofrer uma enorme pressão para se adequar ao novo status.

Ressalte-se que, paralelamente e em prol da abolição, travavam duras batalhas segmentos da sociedade que tinham os mais variados interesses (uns humanos, outros nobres e ainda uns nem humanos e nem nobres). E, claro, os negros cativos, livres, alforriados, fugidos, etc.

A história é longa. Por hora fico por aqui, mas deixando estes poucos, toscos e aglomerados conjuntos de palavras para reflexão.
Selito SD

Leis Abolicionistas

  • 1815 - Tratado anglo-português, na qual Portugal concorda em restringir o tráfico ao sul do Equador;
  • 1826 - Brasil compromete em acabar com o tráfico dentro de 3 anos;
  • 1831 - Tentativa de proibição do tráfico no Brasil, sob pressão da Inglaterra;
  • 1838 - abolição da escravidão nas colônias inglesas;+ 1843 - os ingleses são proibidos de comprar e vender escravos em qualquer parte do mundo;
  • 1845 - A Inglaterra aprova o Bill Abeerden, que da a Inglaterra o poder de apreender os navios negreiros com destino ao Brasil;
  • 1850 - É aprovada sob pressão inglesa a lei Eusébio de Queirós, que proíbe o tráfico negreiro no Brasil;
  • 1865 - A escravidão é abolida nos Estados Unidos (13a. emenda Constitucional) 1869 - Manifesto Liberal propõe a emancipação gradual dos escravos no Brasil;
  • 1871 - Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco;
  • 1885 - Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotejipe;
  • 1888 - Lei Áurea.

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Fonte: www.hystoria.hpg.ig.com.br/abol.html

No dia primeiro de junho, traga 1kg de alimento não perecível!

No dia primeiro de junho o Projeto Nosso Samba estará promovendo um evento sobre o qual estaremos prestando maiores esclarecimentos em edição extraordinário do Informativo_PNS. Todavia, podemos garantir que será mais um gostoso encontro, numa gostosa tarde de domingo, dando seqüência ao que já nos é tradicional, certo?!?

Não é demais lembrar a todos(as) que, nesse dia especial, estarão no nosso terreiro que o ingresso será 1(um) kg de alimento não perecível que posteriormente será destinado a uma entidade de fins filantrópicos (e, por favor, que não seja sal ou só fubá, o.k.?).

G. R. T. P. Morro das Pedras: Que bela festa de aniversário!

Seguindo na esteira do apagar velinhas, no domingo dia 27.04.03, aconteceu a festa do 2º aniversário do GRTP Morro das Pedras (e que festa!). Aqueles que tiveram a felicidade de estar presentes vivenciaram uma autêntica quizomba, algo muito singular.

O terreiro foi tomado de uma mágica energia e todos numa mesma freqüência foram tomadas de uma forte carga emotiva causada pelas crianças da comunidade que encenaram, de modo brilhante, três momentos ímpares da história do samba, vividos pelos mestres: Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Portela: Agenor ou Angenor de Oliveira, o Cartola e; Antônio Candeia Filho, o Candeia. Foi de fazer chorar.

O Projeto Nosso Samba compareceu em peso e não poderia ser de outra maneira. Devemos nos espelhar neste magnífico trabalho em prol da nossa cultura brasileira e popular. Sigamos na luta e... PARABÉNS GRTP Morro das Pedras!!!

SSD

Nossa madrinha completou mais um outono de vida... Parabéns!

PNS-Out/02

Na Quarta feira, dia 14 de maio do corrente, a Dona Clívia, Digníssima Madrinha do Projeto Nosso Samba de Osasco, completou mais um outono de vida. A família PNS parabeniza a esta que é, sem sombra de dúvidas, um dos nossos membros mais importantes - valoroso patrimônio, verdadeiro talismã.

Dona Clívia é daquele tipo de pessoa que cativa, que atrai a gente com o seu sorriso, com a sua energia sempre positiva. Essa guerreira mulher traz em si a força do caráter forjado numa vida marcada pela luta cotidiana que desde muito cedo se viu obrigada a travar (coisa da raça) e sem jamais esmorecer.

Dona Clívia é exemplo de garra, superação e perseverança. Trata-se de alguém que representa a força, que espelha a alma, que exprime o sentimento da imensa maioria da população brasileira, a saber: O Povo.

Com estas poucas e singelas palavras, tomo a liberdade de, em nome da nossa família (o Projeto Nosso Samba), registrar a homenagem à nossa querida madrinha...

À Dona Clívia, muita felicidades e muitíssimos mais anos de vida... PARABÉNS!!!

Selito SD

quarta-feira, 30 de abril de 2003

Carlão do Peruche

Carlos Alberto Caetano, o Carlão do Peruche, é um sambista que habitou os mais tortuosos e espinhentos caminhos do roçado do bom Deus. Ele não só conhece todos os becos, todas as esquinas onde haveria uma batucada, como empenhou sua vida, sua disciplina, sua dedicação para elevar o respeito, a dignidade para com o samba paulista. Não existe escola de samba, bloco de sujo, bloco de esfarrapado, escolas que surgiram e desapareceram, que não puderam contar com a camaradagem do Carlão.

Conhecedor absoluto das quebradas do mundaréu, lá onde a praga bota os ovos, lá onde a dor é constante, lá onde ficam os desamparados de nossa terra, em alguma esquina, nas madrugadas hoje sem garoa... Onde pode-se encontrar um grupo de rapazes com um surdo, um repique, um cavaco e um tamborim, resistindo e levando a alegria no coração das pessoas simples.

Na geografia das escolas paulistas, todas as escolas de samba de norte a sul de São Paulo, contaram com a visita amiga e sempre positiva do Carlão. Sem falar da sua fiel amada, a escola de Samba ‘Unidos do Peruche’. Durante os tempos sombrios da ditadura militar, Carlão integrou o grupo teatral que ficou conhecido como ‘O Bando’ do Plínio Marcos. Este ‘Bando’, termo pejorativo, era formado por um grupo de compositores de escolas de samba, entre eles Geraldo Filme, Talismã, Toniquinho Batuqueiro, que representavam personagens no espetáculo ‘Barrela’ de Plínio Marcos.

O espetáculo que se passava no interior de uma cadeia, era uma oportunidade para se denunciar a brutalidade de nossas condições carcerárias, sempre presente nos trabalhos do Plínio e como todos sabemos, nas prisões brasileiras até hoje, só encontramos pretos e pobres. Quando o espetáculo era proibido pela polícia de ser apresentado, tornava-se uma roda de samba.

A roda de samba era uma oportunidade daqueles sambistas mostrarem seus trabalhos e uma oportunidade para o Plínio debater com o público e fazer denúncias sobre as perseguições que todos os artistas sofriam. Este ‘Bando’ era visto distribuindo nas ruas do centro e periferia, filipetas de divulgação do espetáculo juntos atores e compositores, sempre seguidos de perto pela polícia política.

Era um tempo de resistência e o Carlão novamente, mostrando sua firmeza, sua paciência, sempre dando ao samba , a dignidade que o samba merece. Ele tem muitas estórias que vêm desde o tempo das romarias para Pirapora, dos bailões nos porões do Bexiga, da Banda Bandalha, depois a Banda Redonda, Escola de Samba Lavapés, o Bloco dos Esfarrapados do Armandinho do Bexiga e todos aqueles que tentavam tomar as ruas de volta para o povo. Ele tem sua estória escrita nas calçadas de São Paulo, junto a todos aqueles que pisaram firme o chão de nossa cidade clamando justiça.

A justa homenagem que o programa, Sambas de Bumbo e Bambas do Samba, que o SESC IPIRANGA faz a este senhor e a todos os grupos e comunidades participantes, é uma possibilidade histórica de reparar-se uma injustiça com a história de nossa cultura popular e permitir que todos aqueles que amam a cultura popular, conhecer este homem lendário, cidadão samba, titulo que muito o honrou, construído entre a gente simples do nosso povo.

Quando o pessoal descobria onde estava tendo um samba bom, o Carlão do Peruche, já tinha estado lá há muito tempo! Esse é o Carlão!
Rubens Grego (Rubão)

Perfis do PNS II/Paulinho do Cavaco

O Paulinho é um sujeito muito paciente, educado ou seja, possui as condições para ser um músico do povo, para atender e alegrar a nossa gente tão maltratada. Como ninguém é perfeito o nosso entrevistado é torcedor do São Paulo e do Fluminense, nascido em Marabá Paulista, nas barrancas do rio Paranapanema, na região de Presidente Prudente.

Mudou-se para São Paulo, vindo residir na região oeste, no bairro do Jaguaré, Rio Pequeno. Foi bicando em outros músicos que o Paulinho resolveu tocar cavaquinho e conseguiu logo um cavaquinho xadrez, formou o grupo Acalanto que contou com os seguintes músicos: Paulinho (cavaquinho), Caio Prado(banjo),Fabio (rebolo), Wilsinho (pandeiro), Orlando( violão), Gigio (surdo), Arthur (reco-reco), Edu (contrabaixo).

Participou de disputas de samba na quadra da escola Unidos do Peruche, organizadas pelo JB bar da Waldemar Ferreira, apresentaram seus sambas na quadra, junto a Moisés da Rocha e Evaristo de Carvalho.

Portanto, muito respeito quando vocês encontrarem um sujeito baixinho, hoje osasquense, com boné de malandro abraçado a um cavaquinho, autor de mais de quarenta sambas, uma pessoa que jamais nega um acorde, uma melodia, capaz de atender os pedidos surpreendentes de tudo quanto é 'desalmado da garoa'. É um tipo surpreendente, mantém a tradição dos maiores artistas do povo, gente como Jair do Cavaquinho, Manacéa, Casquinha, Alberto Lonato, Chatim, Coringa e tantos músicos adoráveis que só a nossa terra pode gerar.

Os músicos de cordas, são a verdadeira alma da musica brasileira, observando nas rodas de samba, os tocadores de cavaquinho, estão entre os homens mais ternos e delicados de uma irmandade musical profunda que são: o samba e o choro. Cientes, que são a alma do samba, esses músicos, tomam o cuidado de tirar suavemente os acordes musicais e espetá-los diretamente no coração dos participantes da roda de samba. Os tocadores de cavaquinho, eternizam as alegrias e mágoas de qualquer rejeitado do mundo, eles que conseguem fazer as pessoas sorrirem , sonharem com a imagem sonora do cavaquinho.

O cavaquinho, traz sempre felicidade a todos, traz esperança e sonho de amor eterno. A rapaziada do projeto Nosso Samba, fez um esforço 'imenso' para passar uma tarde de sábado, entre loiras 'suadas' e 'branquinhas' baixinhas, entrevistando o músico e poeta Paulo Pontes. O encontro realizado no botequim do Toninho no Jardim Umarizal. Presentes nesta entrevista os sambistas: Wagner Alves, Robério, Biulla, SelitoSD, Marcelo B., Ninão, Gutão, Paquera, Emerson Urso, Enéas Marques, aparecendo de surpresa o incrível poeta Caio Prado. Esta entrevista foi 'psicografada' pelo bicudo Rubão.

Wagner Alves - Como é o samba para você ?

PP - Na minha terra, tem grandes bambas, mas hoje estão no esquecimento, foram duramente perseguidos, por defender uma arte, uma causa nobre. Salve a velha-guarda de São Paulo, o meu respeito e gratidão pelas obras que deixaram.

Paquera - A musica tem algum poder?

PP - Tomara que o poder da música, soe como um encantamento. E assim serei o dono dela, eu lhe darei o universo, pintarei uma aquarela que represente o amor. Vieste ao mundo para ser a minha amada, adorada do princípio ao fim.

Robério - O que é uma grande roda?

PP - O samba que alimenta a inspiração, com pandeiro e tamborim, bem serenados. Cabrochas saltitando no botequim.

Caio Prado - O que você pensa da cultura popular?

PP - Nem só no morro tem samba, compositores e bambas, partido e versos de improviso. O asfalto também apresenta uma boa qualidade musical. Muito além do desfile de carnaval, a cultura não escolhe lugar para nascer.

SelitoSD - O que é uma madrugada?

PP - É a aurora rompendo, é o alvorecer. É como o encontro das águas, entre o rio e o mar. O meu universo, as estrelas em tempo de lua cheia, é o samba se juntando com o jongo no terreiro.

Biulla - É duro viver da 'madrugada'?

PP - Este meu instinto libertário, é que me fez decidir. Não mais ficar atado ao casamento, já que pra mim é tormento. Viver sem a boemia, já disse pra nega que lamento, que não dá mais, não agüento ficar longe da orgia.

Emerson Urso - Qual seu compositor preferido?

PP - Do Morro de Mangueira, desciam Carlos Cachaça, Cartola e com "Prazer" Heitor, iam levar poesia a toda sociedade. Porém, essa gente não sabia, que nas veias desses homens, corria a mais nobre cultura. Ao ouvir cartola relembro os sambas autênticos de outrora, tocados com simplicidade, nas cordas do seu violão, poesia dos tempos idos, exaltadas na forma de canção. A mangueira não morreu, nem morrerá, isto não acontecerá. Teu seu nome na história, Mangueira tu és um cenário coberto de glórias.

Biulla - Você se referiu ao Cartola, mas qual sua verdadeira escola de samba?

PP - Portela, seu manto azul é o meu céu, trazendo as suas pastoras e os seus estandartes de ouro, orgulho de toda uma nação.

Robério - O sofrimento de amor passa?

PP - Estou bem mais ciente, mas antes não entendia. A vida me ensinou a superar..a covardia. Ela levou toda a nossa tralha, bancou a canalha. Me deixou sem eira, nem beira. Ela abusou, fez papel de louca. A nega pelou meu bangalô, levou ' echarpe' que eu dei a ela, todo móvel de primeira, a porcelana chinesa levou, levou o tapete importado, um tremendo prejuízo , o barraco do avesso virou, levou minha paz e o meu sossego.

Enéas Marques - O que mais satisfaz ao poeta?

PP - Colar minhas mãos ao teu corpo. Me sentir envolto com tanto prazer. Prazer é ter você, poder te ver feliz. O nosso amor eu comparo, ao gosto de um beijo, que insinua e aumento os nossos desejos.

SelitoSD - Você jura eterno amor?

PP - Jurar é fácil. Cumprir é que as vezes não dá. Nessa vida eu aprendi, que ' jurar fácil dá castigo'.

Paquera - E quando aparece um sujeito desagradável, inconveniente 'numa noitada'?

PP - Eu tenho a madrugada e o meu violão. Não é você que vai tirar minha inspiração!

Caio Prado - Poeta vive de sonho?

PP - A realidade chegou em mim, tarde demais. Na juventude fui um grande sonhador. Procurei liberdade, sem pensar no amanhã. Hoje não tenho mais ninguém ao meu redor. Ando vagando sem saber qual o destino, em desalinho deixo a vida me levar. Feito criança abandonada, a mocidade eu não posso retornar.

Biulla - O que é uma madrugada?

É a aurora rompendo, é o alvorecer. É como o encontro das águas, entre o rio e o mar. O meu universo, as estrelas em tempo de lua cheia, é o samba se juntando com o jongo no terreiro.

Wagner Alves - Os poetas são sinceros?

PP - Já fui torturado pelo tempo, as rugas e amarguras foram os meus 'troféus', cansei de tropeçar em falsas juras, depois de tantos desvios sou merecedor de um amor sincero.

Ninão - Como um poeta do povo, como você vê a situação atual do Brasil e do povo brasileiro?

PP- Vejo a maior desavença na cara do povo. Não é culpa do povo. Que culpa tem essa gente? Trabalho dobrado,salário minguado. O pão custa caro, que carne, que nada! Os donos do mundo ignoram essas faces. E os pobres guerreiros na dura batalha. É um mar de angústia, vergonha, tristeza. Cadê meu Brasil? A sua riqueza? Favelas, cortiços, o meu povo chora. De fome e de dor, por aí afora.

Gutão - Como poeta você presenciou uma cena triste?

PP - A nega Benta, com a rodilha na cabeça, carregando lata dágua pro coroné se 'banhá'. O vento sopra, o canaviá 'dobra', mas não cai ladeira abaixo. É mais um dia que se vai, é só poeira que sai, da estrada que leva pro rio. Nega Benta está cansada. A sua labuta não tem fim.

Gutão - O que você pensa de todos esses caras metidos a 'espertos', sempre chegando nas situações para tirar proveito, até mesmo em roda de samba. O que você pensa destes verdadeiros 'piolhos'?

PP - Quanta conversa fiada, o Mané no meio de bambas soltou. Seu ápice é ' boi com abóbora'. Porque o restante deveria guardar. O seu semancol é ridículo demais, não usa, pois tem dó de gastar, não há criatura no mundo, que suporte o Mane discursar. Agora ele enlouqueceu, quer entrar na política, até se diz marxista, tudo pela igualdade social. Vive sempre pedindo um qualquer, quer ajuda na sua campanha, da ultima vez que tentou, ele quase apanha. Quanta conversa fiada...

Biulla - Quais os tipos mais curiosos que você encontrou pelas 'quebradas do mundaréu, como dizia o saudoso Plínio Marcos?

PP - Dona Filó fofoqueira, mulher de língua comprida. Vive em terreiro alheio, sempre armando intriga. Exterminadora de lares, correio da má notícia, é o terror da vizinhança, em tudo ela mete o bedelho?

Marcelo - Aqui em Osasco, notamos a presença brutal de 'trabalhadores' excluídos socialmente, uma verdadeira situação de exclusão social. O que você pensa desta situação?

PP - Ainda hoje de manhã, tive um pressentimento, senti a brisa mansa embalada pelo vento. A calmaria me dizia que algo iria acontecer. Pois ' Chico bala na agulha', acabara de voltar de uma grande reclusão. Que o tirou do lar de Rosa, foi então que o tal do Chico, percebeu o ocorrido, sua Rosa já tem outro, ela havia lhe traído. Sem moral, sem teto e sem mulher, com o peito em desalinho e somente o que restou de Rosa foram os espinhos. O Robin Hood do Morro, foi mais um 'herói' que tombou no morro. É o preço da fama, ele comandava, sua palavra era ordem, decreto, mandou reformar a escola, a sedinha e a creche, até um hospital, doava alimentos, enchia de presentes as crianças quando era Natal. Mas a notícia desceu ao asfalto e entrou no DP e o dr. Delegado conduziu a diligência. O morro foi invadir, a 'lei do asfalto' é clara. Robin Hood no morro não pode existir.

Biulla - Qual a situação mais esquisita que você encontrou no samba e quase perdeu o 'cavaquinho'?

PP - O pagode na casa de Dora, mulheres corriam pra dentro e os homens corriam pra fora. É que o nego Faísca, chegou pra arrumar escarcéu. Nem sequer foi convidado, ficou louco de dedéu. Sacou o seu parabelo e houve corre-corre, tanta confusão, que até o Joça na latrina saiu correndo com as calça na mão. Chico Roque Juazeiro, percebendo a armação, viu que o ferro do Faísca, não tinha munição. Deu-lhe um sopapo certeiro, que nego Faísca virou pelo avesso, ficou sem rumo, sem prumo e sem guia, perdeu o pivô e até o endereço. Foi um tremendo salseiro.

Marcelo - O poeta Vinícius de Moraes, afirmou em uma crônica que São Paulo seria o túmulo do samba, depois fez um samba lindo com o Adoniram Barbosa 'Bom dia, tristeza', que inclusive foi gravado pelo saudoso Roberto Ribeiro da Serrinha, uma gravação de arrepiar. Que você pensa sobre tudo isso?

PP - Quem pensa que São Paulo é só garoa, não reparou. Que essa terra é muito mais. Tem samba bom, tem sim, No Bexiga eu vi que a folia é verdadeira. E não já quem confunda, lá na Barrafunda. E vou pra vila Madalena, terreiro que dá gosto, lá muitos bambas encontrei. Em Osasco tem o Projeto Nosso Samba!

SelitoSD - Você já perdeu amor por causa do 'samba?

PP - Ela abandonou minha ala, alegando que eu não lhe dei carinho. Em meio à euforia da escola, na grande vitória eu me senti sozinho. Todos foram para a quadra, festejar a noite inteira e eu me senti, um mestre-sala sem porta bandeira.

SelitoSD - Todo poeta tem sempre uma mulher esperando?

PP - A nega pula de satisfação quando chego em casa cedo. Vem e faz um chamego, até me faz cafuné. E diz: "Nego não minta pra mim!" Porém tudo aquilo que faço, eu faço pensando em ti. Quando estou pensativo, sentindo a tua ausência, passo a mão no pinho e afasto toda a tristeza.

Wagner Alves - Você jura eterno amor?

PP - Jurar é fácil. Cumprir é que as vezes não dá. Nessa vida eu aprendi, que ' jurar fácil dá castigo'.

Gutão - Como poeta você presenciou uma cena triste?

PP - A nega Benta, com a rodilha na cabeça, carregando lata dágua pro coroné se 'banhá'. O vento sopra, o canaviá 'dobra', mas não cai ladeira abaixo. É mais um dia que se vai, é só poeira que sai, da estrada que leva pro rio. Nega Benta está cansada. A sua labuta não tem fim.

Marcelo - O poeta e compositor Paulo Leminski, tinha uma afirmação interessante sobre os tipos humildes dos subúrbios. Ele inclusive chamava isso de 'ataque à João Antonio' - São os acometidos desse mal crêem-se jogadores de sinuca, malandros da noite e velhos boêmios. Alguns tentam se parecer com Adoniram Barbosa. Quando alguém disser "literatura é um corpo-a-corpo com a vida", esteja certo: Ali alguém está sofrendo do Mal de João Antonio. Vivem normalmente de uma dieta de Gorki e Lima Barreto. O melhor modo de curá-los é convidá-los para uma partida de sinuca. O que você pensa disso, inclusive lembrando que o formidável escritor João Antonio, do bairro de Quitaúna em Osasco?

PP - Ainda hoje de manhã, tive um pressentimento, senti a brisa mansa embalada pelo vento. A calmaria me dizia que algo iria acontecer. Pois ' Chico bala na agulha', acabara de voltar de uma grande reclusão. Que o tirou do lar de Rosa, foi então que o tal do Chico, percebeu o ocorrido, sua Rosa já tem outro, ela havia lhe traído. Sem moral, sem teto e sem mulher, com o peito em desalinho e somente o que restou de Rosa foram os espinhos. O Robin Hood do Morro, foi mais um 'herói' que tombou no morro. É o preço da fama, ele comandava, sua palavra era ordem, decreto, mandou reformar a escola, a sedinha e a creche, até um hospital, doava alimentos, enchia de presentes as crianças quando era Natal. Mas a notícia desceu ao asfalto e entrou no DP e o dr. Delegado conduziu a diligência. O morro foi invadir, a 'lei do asfalto' é clara. Robin Hood no morro não pode existir.

Fabio - Quais os tipos mais curiosos que você encontrou pelas 'quebradas do mundaréu, como dizia o saudoso Plínio Marcos?

PP - Dona Filó fofoqueira, mulher de língua comprida. Vive em terreiro alheio, sempre armando intriga. Exterminadora de lares, correio da má notícia, é o terror da vizinhança, em tudo ela mete o bedelho!!

Gutão - Todo mundo do projeto sabe que você é um 'boca nervosa', um faminto desesperado, um famélico da terra, como essa particularidade sua aparece nos sambas?

PP - Todo final de semana, eu me dirijo pra lá. Na casa da Esmeraldina, da sua muqueca eu quero provar. É da terra de Caymi, tem a magia do tempero em suas mãos. E lá tem também tem partideiro, e o samba como é bom! Tem caldo de feijão, sarapatel, carne de bode na brasa é praxe cerveja gelada. Não tem hora pra acabar, e a folia vai romper, o amanhecer, todo mundo, já vai lá pernoitar, é por isso que eu vou levar você. Essa nega tem 'brevet' de fogão.

Wagner Alves - Como foi sua convivência com a região da Boca do Lixo, da gafieira 'Som de Cristal'?

PP - O trinta e cinco, vinha da praça do correio, trazendo a nega ao encontro do Benedito, corria o trecho da avenida são João, ele passava ali na Lapa, na estação. O endereço era a rua Rego Freitas. Era ali, naquela famosa gafieira, praticamente o 'habitat' de Benedito, conhecedor como pouco das danças de salão e pra facilitar a sua nega era a primeira passista da nossa grandiosa Camisa Verde e Branco.

Gutão - Como são seus parceiros no Projeto Nosso Samba?

PP - Na mesma folia do samba. Levamos uma vida de bamba, esperando a estrela da sorte, brilhar o seu lado mais forte. O meu era mais a caneta, os versos, as rimas, as poesias. Amigos de farra e de onda. Amigo em uma qualquer, varria a noite inteirinha, ao lado de uma bela mulher.

Caio Prado - É bom ser poeta?

PP - Humildemente eu vou. Eu, a caneta e o samba. Os versos e as rimas de bamba. Eu, a caneta e o samba. Esta entrevista também pode ser resumida pelo samba de Joel de Almeida: A primeira escola (Pereira Mattos & Joel de Almeida). A primeira escola de samba, surgiu no Estácio de Sá,/ eu digo isso e afirmo e posso provar/, porque existiam naquele tempo/, os professores do lugar Mano Nilton, Mano Rubem e Edgar e ainda outros que eu nem quero falar/. Depois surgiu a Favela, Mangueira e mais tarde a Portela/ e ainda faltam muitas outras, peço me desculpar por não falar,/ há não ser Vila Isabel, em homenagem ao saudoso Noel.
Rubão
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O que ler:
Lima Barreto - Clara dos Anjos, Ed. Brasiliense;
Maximo Gorki - A mãe, ed. Abril;
João Antonio - Abraçado a meu rancor, ed. Rocco

Perfis do Projeto Nosso Samba[1] - Gutão

Luiz Augusto Carvalho (Gutão). Foto: PNS/03

Existe no projeto nosso samba, um rapper que tem extrema agilidade de versejar, por mais estranho que pareça, culturalmente estou com Tinhorão[2], quando ele afirma que o ‘rap’ é a embolada dos brasileiros que perderam consciência de sua própria história cultural e popular.

Toda a agilidade mental, verbal e poética dos rappers está colada com a estória desconhecida da ‘embolada’, mas incorporada à estória de vida pessoal e familiar e que se vai passando na história familiar, sem que tenhamos consciência disso tudo.

É claro, que em nossas famílias negras, também temos um pé no samba-rock, mas músicas executadas nos bailes da periferia, durante os anos 70, enquanto se ouvia James Brown, Jorge Bem, Tim Maia e Cassiano. Esses formataram a proximidade entre a musica negra americana e a música brasileira, no período em que surgiram as bandas ‘Black Rio’ e os bailes promovidos pelas equipes que organizavam os bailes no São Paulo Chic e no Palmeiras.

Mas este corinthiano de pouco mais de vinte anos, Luiz Augusto Carvalho, Gutão, em bate-papo informal, reconheceu, denunciou e afirmou que o ‘rap’ trata da questão social e de classe e principalmente do racismo desta hipócrita sociedade brasileira. Para isso, ele lembrou a mensagem do seu querido Mano Brown, que coloca toda a revolta dele e do povo em suas letras, numa maneira de denunciar as formas de opressão social e racial do nosso país. Ele cita, “nossos motivos para lutar, ainda são os mesmos, o preconceito e o desprezo ainda são iguais. Nós somos negros, também temos nossos ideais. Racistas otários nos deixem em paz!” denunciar todo e qualquer tipo de racismo, deve fazer parte dos objetivos culturais que o Projeto Nosso Samba, como agrupamento de resistência na defesa da cultura popular.

O Gutão que tem apetite devorador, come de tudo, de jiló a pedra. Só bebe guaraná(diet) e tem além de seu ídolo Mano Brown, outros dois compositores mangueirenses entre os seus preferidos. Trata-se de Cartola e Nelson Cavaquinho. É curioso que a aspereza do Mano Brown permitiu que se conhecesse um lado mais emocionado e lírico do Gutão e para isso ele cita um outro mangueirense Carlos Cachaça (Não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto). Então fica provada sua origem mangueirense e sua disposição para estar sempre distribuindo sorrisos a todos que chegam no projeto, que o cumprimentam em respeito à sua dedicação ao Projeto Nosso Samba. Ele vinculou-se ao projeto, quando mudou-se para o Km18 e foi tomando um ‘refrigerante’ (estranho para um declarado boêmio), num botequim, conheceu um pessoal que fazia um samba que era raro de se ver em Osasco. Nessa roda estava o ‘mestre sala dos bares’ Vagner Alves. Aí ele que tem uma maneira particular de ‘pedir’ favores aos amigos falou desta maneira para o seu ‘mestre sala dos bares’ “Ô mano, amanhã eu vou trazer uma fita para você gravar só samba da antiga pra mim, falou? Se você não trouxer, eu arrebento com você, certo?” O mestre sala dos bares não pensou duas vezes, trouxe a fita bonitinha.

E desde esse dia, foram mais de quinze fitas gravadas pelo Vagninho, eles se fundiram em sambas e fitas e acabaram em um verdadeiro ‘é nois nas fitas!’. Ele pertence ao Projeto Nosso Samba, desde sua fundação, embora não se considere um dos seus idealizadores. Reconhece uma tristeza com o afastamento de alguns amigos, entre eles, é lógico o Caio Prado. Tem como sua maior alegria dentro do projeto: conhecer novas pessoas e conseqüentemente fazer amizades e conhecer o verdadeiro e bom samba brasileiro. Este é o Gutão, integrante histórico do Projeto Nosso Samba. Um partideiro preocupado com nossas dores sociais. Para ele deixamos este samba histórico de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida “Pra que discutir com madame : Madame diz que a vida não melhora, que a raça piora, por causa do samba. Madame diz que o samba é mistura de raça, mistura de cor. Madame diz que o samba devia acabar’ Se depender do Gutão o samba e o Projeto Nosso Samba nunca irão acabar.

Rubão
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[1] A idéia destes perfis é de permitir que nossas visitas possam conhecer um pouco mais da história dos integrantes do Projeto Nosso Samba.
[2] José Ramos Tinhorão, historiador e crítico musical da musica popular brasileira, publicou entre outras obras ‘Os sons que vem da rua’ e ‘Pequena história da Musica Popular Brasileira.

O Surdo

Foram batidas rigorosamente simétricas. Contava-se, um, dois, três, quatro, compassado com a contagem dos segundos, e aí, mais uma vez ouvia-se a batida. Um lamento cruel, silencioso, doloroso, provocando a fantástica imagem da dor. Levando-nos, imortais que somos, nós que fugimos do inevitável, ao silêncio fúnebre, ao cheiro de cravos, rosas, incensos e velas.

Naquele dia, o dia mais perverso do ano, o surdo, o regente da euforia dos grandes espetáculos, regia a tristeza. O coral composto por quinhentas vozes afinadas, quinhentas vozes de sambistas, entoava:

"...O samba não levanta mais poeira/ O asfalto hoje cobriu nosso chão/ Lembranças eu tenho da saracura (...) Bixiga hoje é só arranha-céu/ E não se vê mais a luz da lua..."

A música que outrora fizera vibrar as passarelas, agora era cantada lentamente como a batida do surdo. Bem-te-vis, homens, pombos, rolinhas e mulheres, tentavam esconder as lágrimas. Naquele momento o bandido mais desumano, caso lá se encontrasse, certamente teria sua alma persuadida.

Ao final da despedida, um forte silêncio se fez e as pessoas que se comprimiam na sala, saíram trazendo à frente, o surdo e sua dor. Em seguida, surgiram dois carros, como se fossem macas, compridos e altos, e sobre eles as coroas de flores foram colocadas. Era início do ano. Tempo em que o surdo começa a se aquecer. Tempo em que o grande povo trabalha a sua fantasia. E ali estava ele, melancólico, de luto, sem palavras. Inesperadamente, do meio do povo, como mágica, inúmeros estandartes brilhantes foram erguidos e de lá surgiram as mais formosas mulheres. Por mais que demostrassem tristeza e cansaço, seus rostos mantinham-se fielmente belos. Era à tarde e a alameda já se preparava para receber os últimos visitantes do dia. O carro das flores encabeçava o cortejo, vindo a seguir a ala das porta-bandeiras. Recendia na tarde o aroma das flores e o perfume das mulheres tristes. Impiedoso, o surdo permanecia no seu silêncio, carregando na sua dor, um ritmista do realismo mágico. Ali tudo era realismo.

Despedia-se de um companheiro. Um paulista-bexiguense. Um notável sambista. Um ilustre compositor de música brasileira. Geraldo Filme de Souza. O Geraldo Filme, da Escola de Samba Vai-Vai. Não houve discursos. Apenas aplausos e a lembrança da missa de sétimo dia. E, já distante, a dor do surdo.
Celso Alencar*
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* Poeta paraense radicado em São Paulo, autor de "O primeiro Inferno e Outros Poemas", "O Pastor", "Os Reis de Abaeté", "Arco Vermelho", "Salve, Salve" e outros.É membro do Conselho Municipal de Cultura e diretor da União Brasileira de Escritores

Para Seu Carlão do Peruche

Era agosto. Da Barra Funda, a gente pegava o trem e ia até a estaçãozinha de Barueri. Dali, cada qual como podia, faltava chão pela estrada dos Romeiros: uns de cavalo, outros de carro-de-boi, os mais humildes, a pé mesmo. Era época santa, época do Santo, Bom Jesus. Pirapora. O que se havia prometido, devia de ser cumprido, o que devia ser conseguido, havia de ser prometido. O Santo faz milagres. O Santo cura.

Mamãe, católica, me pegava num braço, rumo à missa. Papai, fagueiro, pegava no outro, ao barracão. O coração generoso de mamãe não vencia o braço forte de papai. Só depois de velho conheci a Igreja. Nasceu, jogou, caiu sentado é Padre, caiu de pé é Sambista. Assim as linhas tortas escrevem o nosso destino. E é preciso cair de pé para sobreviver. Tiririca faca de ponta, capoeira tem que pegá.

Lá dentro, gente dormia, gente cozinhava, a raça jongava. Mulheres de um lado, homens do outro. O chefe do samba punha a mão no bumbo, sinal de silêncio, atenção, o ponto é lançado: eu vi jogo de mão, eu vi jogo de pé, eu vi bola virá, eu não vi como é. Um mistério, quem não sabe não desata, deixa cantá. E o mistério tomava conta. Zé Soldado, Pai João, Zé Mundão, Isidoro, desafios de bamba, criança espreitava, a noite corria na areia. Enquanto nós bebe pinga essa samba não arreia.

Só assim pra aprender as mumunhas do samba e da arte da sobrevivência. Dos bailes nos porões do Bixiga, dançando com a cabeça curvada, até a minha primeira escola, a Lavapés, encarando os bambas mais sinistros para fazer valer a palavra da Nossa Madrinha Eunice, sapateei, perneei, saracoteei, naquele tempo as coisas eram na mão. Assim se faz um bamba, cidadão-samba. Da Barrela pra tirar as manchas da roupa, do domínio público pra tirar os hômi da área, do samba pra tirar a lua pro escuro do beco, da lata de graxa pra tirar o samba que a lua ilumina, de todos os esforços do mundo pra tirar a escola da quadra pra avenida. Alegrias ladinas, áfricas memórias.

Tempos idos, saudade e devoção me chamam à Pirapora. Não há mais barracão, mas o samba ainda pulsa nos requebros lúcidos de uma senhora louca, enquanto houverem moinhos, haverão quixotes. Meu olhar se perde, os olhos marejam. De repente um aperto no braço. É uma senhora: menino, tu não é filho de Zeca e Maria ? Desde então, percebi que o tempo não passa.
Marcelo A. Benedito

Seu Jair do Cavaquinho homenageado no PNS

Seu Jair do Cavaquinho homenageado no PNS!

É isso aí, gente boa gente! No Domingo dia 30 de março, ao que tudo indica, o Projeto Nosso Samba terá a honra de receber em seu terreiro, nada mais, nada menos que o grande mestre Seu Jair do Cavaquinho.

Para quem não sabe, trata-se de uma das mais importantes personagens da história do samba. Não é demais lembra que Seu Jair, integrou os primeiros e mais importantes conjuntos que vieram a forjar o samba como a essência da música brasileira. Participou no Rosa de Ouro, no A Voz do Morro e também no Os Cinco Crioulos.

Dividiu palco com bambas de alto quilate como: Paulinho da Viola, Zé Ketti, Nelson Sargento, Elton Medeiros e Mauro Duarte e foi considerado por Jacob do Bandolim o melhor cavaquinista de samba.

Atualmente, Seu Jair é integrante da Velha Guarda da Portela e nos dias 28 e 29 de março, sexta e sábado próximos, as 22h00, se apresentará, acompanhado pela excelente rapaziada do conjunto Samba Raro, no Világgio Café, sitiado no Bixiga, na Praça Dom Orione, 298 entre as ruas 13 de maio e Rui Barbosa, fone: (11) 251-3730, couvert R$ 15,00.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

História

José A. Goulart

Fragmento de documento, onde a irmandade do Rosário pede permissão para fazer uma procissão no Império.
“O Juiz e Irmãos de Nossa Senhora do Rosário”, dizia Caetano Pinto a Antônio Carlos, pediram a V.Mcê., para saírem ao amanhecer de 17 para 18 do corrente com sua bandeira da mesma Senhora pelas ruas desta cidade, acompanhada por eles, e pelas irmãs da dita irmandade, com toque de instrumentos, zabumbas, clarinetes, jogos de ar: e V.Mcê. deferiu-lhes como eles pediram.”

“O exemplo da Capitania da Bahia, cujo incêndio pela sua proximidade pode facilmente atear-se em Pernambuco; o desassossego que tivemos aqui o ano passado; e as suspeitas ainda não desvanecidas de um levante premeditado em Alagoas, exigem grande circunspeção sobre o ajuntamento de escravos, principalmente a noite. A Ordenação do Livro 5º,T.70 § 1º parece-me que nas circunstâncias atuais deve ter uma prudente aplicação no Recife e Olinda, e fogos de artifício sabe V.Mcê que são proibidos por diversas leis. “Recomendo pois a V.Mcê e positivamente lhe ordeno, que tenha a maior cautela em conceder estas licenças; antes, se pudesse conseguir que os habitantes de Olinda não misturassem nas suas festas coisas profanas com divinas, faria V.Mcê um serviço muito agradável a Deus, e a Sua Alteza, Nosso Religiosíssimo Soberano. “Deus guarde a V.Mcê. Recife, 16 de dezembro de 1815. a) Caetano Pinto de Miranda Montenegro e Sr. Ouvidor-Geral Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

Fonte: Da Palmatória ao Patíbulo, José Alípio Goulart, Temas Brasileiros, Castigos de Escravos no Brasil, ed. Conquista

O último tocador de tambu

Plínio Marcos
Nas quebradas do mundaréu, bem onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, mexe e vira havia festa de tambu. Tambu é uma dança de umbigada. Homens de um lado, mulheres do outro, o cantador improvisa versos no meio da roda, canta primeiro pras mulheres, depois para os homens, até todos poderem cantar juntos; então o cantador se afasta e, batendo palmas no ritmo, homens e mulheres vão se aproximando até darem umbigada. Três instrumentos entram no tambu – pau-oco ou sete léguas, um pau de sete metros com um couro esticado na ponta capaz de ecoar na mata por sete léguas; quingengê, uma espécie de atabaque pequeno; e chocalho.

O Almofadão, crioulo cheio de truques, gostava de se apresentar bem trajado, com roupa branca, de um branco de anúncio de televisão, daí o apelido – era um grande puxador de tambu. Mandava ver, dava um recado sentido. E todos o respeitavam. Não havia batuqueiro que dispensasse as festas onde o Almofadão cantava e batia tambu. Por essas e outras, o coroa reinava.

E seu filho, o Almofadinha, desde pequeno dava as fuças nesse pagode, dizendo co pé com príncipe que era. Por ser pivete, abafava: O pai não descuidava, levava o moleque num cortado.

Antes de saírem, o velho Almofadão examinava o filho de cima a baixo, pra ver se estava tudo como mandava o figurino. Quando retornavam das festanças, conferia mais uma vez seu menino se ele não estivesse coberto de poeira, tal qual um tatu, levava cascudo, pois era sinal de que não tinha se espalhado como devia um bom batuqueiro.

Assim, o Almofadinha foi crescendo e ganhando nome no seu pedaço O velho Almofadão se sentia tranqüilo para morrer. Sabia que, quando fosse falar com Deus, o tambu não iria pro beleléu. Seu filho amado estaria firme para manter o axé da família. Remando o barco mesmo contra a maré. E salvaria o tambu apesar da onda de música estrangeira que já naquele tempo era só o que se escutava, nos veículos de comunicação. Foi por essa fé que, no dia em que o coração rateou, o velho Almofadão nem se afobou. Deitou, fechou os olhos na proteção dos orixás, se apagou.

Pro Almofadinha, perder o pai – antes de mais nada um companheirão de batuque. – foi um golpe de entortar o patuá. Ficou jururu. Mas deu descanso de alça pro Almofadão com todas as honras de mestre batuqueiro. Fez o couro do cabrito gemer; chorou no quingenguê até botarem terra em cima da carcaça do velho Almofadão. E, diante da cova rasa que coube ao Almofadão, o Almofadinha jurou, pela luz que o iluminava, que seria um tocador de tambu até seu último suspiro. Se tivesse filhos passaria a eles os macetes do negócio.

Porém ( sempre tem um porém ), logo a mãe do Almofadinha esticou as canelas, com saudades do marido. Ao ficar sozinho, o Almofadinha, desacorçoado naquele lugar onde tudo lembrava seus mortos queridos, juntou seus trapinhos, seu quingenguê e mais uns badulaques e se arrancou. Sai sem rumo, à procura de um mocó pra começar nova vida. Nessas andanças, o Almofadinha teve que bater perna à toa pelos caminhos esquisitos do roçado do bom Deus.

Pra se escorar, resolveu bater seu quingenguê nos botequins, esperando que algum bobalhão, entusiasmado com seu som, lhe adiantasse alguma graninha. Qual o que..

Foi tocar e causar espanto: ninguém entendeu. As orelhas viciadas em ritmos estrangeiros estranharam aquela batida. De inicio, pensaram que o Almofadinha era africano, só quando abriu o bico, viram que era brasileiro.

E aí gozaram o desgraçado as baldas. Encabulado o Almofadinha puxou uns versos pra provocar as moças, versos de sucesso garantido no seu antigo pedaço:

“Campinas, Tietê, Pederneiras/ Aqui em São Paulo não tem/ Moça batuqueira”

Coitado! Tomou a maior vaia da paróquia e, depois da vaia, esculachos mil. Invocado com o passa-fora, o Almofadinha meteu o falho dentro e se retirou. Foi matutar no seu canto.

Por acaso, escutou uma música tocando no rádio. Estrangeira, naturalmente. Mas o Almofadinha não se mancou, era música e era isso o que importava. Dono de um ouvido privilegiado, prestou atenção e morou no ritmo. Achou uma sopa. Bateu no seu quingenguê e não teve chibu. Na sua bobeira, até achou legal. Continuou tocando e não demorou para se sentir à vontade: Demorou menos ainda pra aparecer um freguês todo animado com a batida do Almofadinha, anunciando com banca de entendido: “poxa, bicho” Tu é o máximo nessa tumbadoura. Chega mais”.

O Almofadinha se aproximou, entrou de sola com o som que pegou de orelhada. Só recebeu elogio. “bárbaro”, ”supermoderno”, ”demais”, “ o bicho curte legal”, “é bidu mesmo”, animava a galera.

E, enganbelado o Almofadinha entrou de gaiato na pala da moçada. Esqueceu rápido sua origem, seu velho pai, o Almofadão companheiro e amigo. Aprendeu as milongas da nova curriola, os ritmos das rádios. Foi convidado para fazer parte de um conjunto de garotões cabeludos. Aceitou. E passou a chiar coisas de lascar, com a boca mole de mascar chicletes:

- Sem essa, bicho! Tambu já era.

Deve fazer o velho Almofadão se remexer na cova de tanto desgosto.

O Samba bate outra vez

A família PNS (foto: PNS/02)


...................................................Ponte Preta, janeiro 2.002

Aconteceu com grande entusiasmo a primeira roda do Projeto Nosso Samba no domingo 26 de janeiro. A roda que começou um pouco atrasada, contou com a participação da comunidade e recebeu convidados que atuaram de maneira muito particular na história do samba paulista: Hélio Bagunça (Camisa Verde ) e o Tião Preto(Vila Virou).

Os integrantes do PNS estavam com uma afinação sem igual, levando sambas belíssimos e tradicionalmente cantados nas rodas do projeto.

Uma das motivações particulares para alguém se dispor a visitar o PNS é conhecer a dedicação dos integrantes pela execução dos sambas da velha e nova guarda junto com a oportunidade de desfrutar o convívio poético com os compositores do projeto. O entusiasmo do grupo, contagiou a todos.

As rodas sempre tem um direcionamento musical, que foi alterado pela presença do surpreendente sambista Hélio Bagunça. Ele que cantou sambas das velhas guardas da escola Camisa Verde e Portela e do compositor portelense Paulo César Pinheiro, em três vezes se repetiu exaltando sua escola de coração, o partido de paixão declarada a Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Todo indivíduo que viveu intensamente a vida, principalmente no samba, tem muitas estórias pra contar. No caso do Sr. Hélio é muito envolvente ouvir o relato de suas experiências e atitudes nem sempre compreendidas e até mesmo questionáveis ( ele tem uma fala que não aceita discordância), exibiu ginga ao dançar, exibiu poesia ao cantar, exibiu dignidade ao narrar passagens de sua estória no mundo do samba.

O também portelense Tião Preto, mandou belíssimos sambas do Paulinho da Viola e da sua querida Portela, antes que deixasse a roda, mandou com todo seu encantamento o magnífico samba-enredo sobre a guerra de Canudos da escola de samba Em Cima da Hora (Marcados pela própria natureza) Este samba junto com o imperiano, Heróis da Liberdade de Silas de Oliveira, são composições com tamanha inspiração poética e compromisso histórico que deveriam ser cantados em toda roda de samba, mostrando a resistência dos oprimidos da nossa história, deveriam ser ouvidos em pé com uma marcação de arrepiado silêncio.

O Projeto Nosso Samba , começará o ano arrasando, participando do programa carnavalesco do SESC Ipiranga, no programa ‘Sambas de Bumbo e Bambas do Samba’, onde pela primeira vez estarão atuando conjuntamente os novos terreiros de samba paulista junto com o ignorado ‘samba rural paulista’. Aqui cabe um esclarecimento cultural.. Todos nós tivemos uma formação, através da indústria cultural e não das vivências em terreiros ou das quadras das escolas de samba, perdemos uma qualidade essencial da nossa cultura popular, que é estudar, compreender, e valorizar a história cultural dos oprimidos na cidade de São Paulo. Estes oprimidos escravos e imigrantes forjaram involuntariamente nas periferias de São Paulo, uma prática musical e religiosa (as romarias) desenvolvidas em ambientes deliberadamente isolados, econômica e urbanisticamente. Só para exemplificar, todas as manifestações musicais populares eram vigiadas pela polícia e seus integrantes fotografados e devidamente fichados. Não devemos esquecer que, carregar violão em punho, foi sinônimo de vadiagem e portanto de prisão

A roda foi encerrada com uma intervenção histórica do Sr. Hélio, que expôs as relações dos diferentes grupos de tiririca sejam da Barra Funda, da Praça da Sé ou do Largo da Banana. O que importa é que todos eram sambistas em sua essência, com uma atuação assinalada pela perseguição policial a qualquer manifestação popular. Entre os limites da memória, recuperou-se a estória da extinta escola Unidos dos Campos Elíseos, de uma época onde para se atravessar a cidade e, após o trabalho fazer uma roda de samba na esquina, se levava o tamborim embrulhado em jornal, junto com a marmita, escondido da polícia. Toda vez que um surdo bate novamente o toque de reunir, sopramos a brasa da memória de todos aqueles que anonimamente deram vida ao samba, possibilitando de alguma maneira, expressar com força, a poesia dos oprimidos.
.......................................................Rubens Grego (Rubão)

Mestre Toniquinho Batuqueiro*

A vida de Toniquinho Batuqueiro, nascido a 25 de fevereiro de 1929 em Pau Queimado - Piracicaba, compõe um verdadeiro quadro da história do samba paulistano.

Instalando-se a princípio no Parque Peruche, na capital, local de importante fixação de negros vindos das chamadas zonas batuqueiras do oeste paulista (onde ocorre o "Batuque de umbigada" ou "Tambu" pelos seus dançadores, e também o "Samba Rural Paulista" assim denominado por Mário de Andrade) circulou por todos os pontos de samba e tiririca (espécie de capoeira de sotaque paulista) na cidade, como a Vila Maria, a Vila Santa Maria, Casa Verde, Largo da Banana, Largo das Perdizes, área sul da Sé.

Ainda no tempo do bonde, veio trabalhar como engraxate na Praça da Sé onde conviveu com bambas como Geraldo Filme, Synval e Germano Mathias.

O ponto, naquele tempo, era bom para engraxates, como dizia Toniquinho, pois todos os bondes vinham para a Praça da Sé trazendo o povo com o pé todo cheio de lama, já que eram poucas as ruas asfaltadas naquele São Paulo antigo.

Todo final de expediente terminava em batucada na lata de graxa e em uma ou outra roda de tiririca, sempre com muita atenção contra a rigorosa perseguição policial. Após uma estada no Rio, onde morou na Lapa trabalhando como entregador de pão, retorna à São Paulo, onde participa da formação da Unidos do Peruche e da Unidos da Vila Maria. Nesse período instala-se em Osasco, na grande São Paulo, na qual desenvolveu alguns projetos como a desativada Praça do Samba, espaço para o cultivo de velhos e apresentação de novos talentos.

A vivência musical de Toniquinho, mesclando informações do Tambu vivido na infância com influências das marchinhas do carnaval carioca e paulista, todas remexidas no caudilho musical negro que eram as Festas de Bom Jesus do Pirapora, fizeram de Toniquinho um dos maiores ritmistas do país, talento reconhecido por nomes como Mestre Fuleiro do Império Serrano, e também por sua profunda vivência como juri de bateria nos diversos concursos carnavalescos pelo país.

Sua convivência com Plínio Marcos também se destaca, personalidade que ainda lhe inspira profunda devoção. Nos anos de chumbo da ditadura, Toniquinho, Geraldo e Zeca da Casa Verde gravam o antológico "Plínio Marcos em Prosa e Samba", hoje objeto de colecionadores, onde contam e cantam suas histórias. Esse mesmo grupo participa de várias peças teatrais criadas pelo Plínio, compondo ou interpretando a si mesmos, como na peça Barrela, que mostra o cotidiano de uma típica cela de prisão.
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(*)Toniquinho: Embaixador do Samba. Foto: PNS

Marcelo A. Benedito

O Samba está de luto

À saudosa Dona Zica, saudações sambísticas do Projeto Nosso Samba de Osasco.

A família Projeto Nosso Samba se solidariza com toda a comunidade do samba, especialmente a mangueirense e chora a morte da já mui saudosa Dona Zica, legitimamente reverenciada como a Primeira Dama da Estação Primeira de Mangueira.

A passagem desta tão brilhante e relevante figura da e na história da nossa cultura brasileira e popular, em muito nos enobreceu e enriqueceu, e decerto o legado por ela deixado e que tão orgulhosamente herdamos nos será de grande valia para que continuemos firme nessa incessante luta em defesa do que nos é caro demais, a saber: o nosso velho e bom samba.